No pensamento bíblico, a realidade em que vivemos teve um
princípio e terá um fim. É um projeto, e como tal teve planejamento, tem
objetivo, custo e trabalho.
Deus é eterno, e ao ler a Bíblia, tenho a impressão de que a
eternidade não é o tempo infinito, mas uma realidade atemporal. O tempo como o
conhecemos foi criado no quarto "dia", quando Deus fez o sol a lua e as
estrelas.
Como Jesus mesmo nos ensinou, não se deve iniciar uma obra
sem que se tenha condições de executá-la até o fim.
Qual o objetivo final da grande edificação divina? Uma
comunhão eterna entre Deus e o ser humano, criado à sua imagem e semelhança,
com liberdade para escolher entre fazer parte ou não desta intimidade.
Deus em sua onisciência, considerando o livre arbítrio humano,
sabia que o homem o rejeitaria, se recusaria a ter esse relacionamento íntimo,
por aceitar uma ideia distorcida de Seu caráter e que algo teria que ser feito
para convencer o ser humano de Seu amor. Sabia que teria de se manifestar de
forma palpável para conquistar o coração do homem. Teria que sofrer injustiças
e sacrificar-se, ser morto de forma cruel para provar que o que mais deseja é ter um relacionamento verdadeiro, sem intrigas, desconfiança, dúvidas, suspeitas,
sem segundas intenções, interesses mesquinhos e egoístas.
A obra do Criador custou sua vida, a vida de seu Filho. Um
sacrifício voluntário. O Filho disse: Eis-me aqui. Pago o preço para que a obra
seja concluída.
É a palavra do Filho que sustenta toda a criação. Sem ela,
não existiríamos. Não faria sentido Deus criar algo que não se concluiria, que
não desse certo, um fracasso, uma vergonha, ilusão: mentira.
Foi com a palavra que nossa realidade foi criada. É ela que
a sustenta. Acredito que se Cristo não morresse, tudo desmoronaria, voltaria a
ser “sem forma e vazia”, sem aparência e estética, sem conteúdo e significado.
Não por menos, o estado final, a conclusão da obra divina, é
expressa das últimas linhas das escrituras sagradas como uma grande cidade, construída
a partir de materiais nobres, trabalhados, purificados pelo fogo: pessoas que
se dispuseram a fazer parte desta construção, ser um local agradável para a habitação do Espírito divino, passando por dificuldades e
provações para serem lapidadas, moldadas. E a rocha que sustenta os fundamentos, a base deste
edifício é Jesus, o Cristo, encoberto, pisado, suportando toda a obra.
O mundo gosta das pirâmides, das hierarquias, da evidência,
do poder, das classes, do superior, do auge. Mas elas também representam a opressão,
exploração, restrições e privilégios.
A obra de Deus é cúbica, tem medidas iguais, não há
diferenças na altura, largura e comprimento (como era o Santíssimo lugar, o local mais íntimo do
Tabernáculo e posteriormente do Templo). É toda ela valorosa, justa e
equilibrada. Se há alguma diferença, ela é de baixo para cima, invertida da lógica do mundo. O próprio criador, que deveria
estar acima de todas as coisas, mas está à serviço, sustentando e mantendo
tudo, é a rocha, a pedra fundamental para que haja a Paz. Os fundamentos são seus discípulos, os apóstolos, como ele havia dito: Quem entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos servirá. Mas Ele também é o centro, o significado, a razão, a fonte de vida de sua existência.
“Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o
cedro do Líbano; plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso
Deus. Mesmo na velhice darão fruto, permanecerão viçosos e
verdejantes, para proclamar que o Senhor é justo. Ele é a minha rocha;
nele não há injustiça. ” Salmo 92:12-15